"Aqui no meio, entre nós, está nascendo algo."

Nesta página você verá um pouco dos registros que fizemos durante o I Congresso que aconteceu de 22 à 24 de novembro de 2018; uma linda carta que foi redigida por muitas mãos, sob a orientação de Tião Guerra e algumas imagens e pequenos vídeos. Desfrute e compartilhe!

 

CARTA DE SÃO JOÃO DEL REI - Redigida durante e após o I Congresso Mineiro de Medicina Antroposófica, I Encontro Nacional de Cantoterapia - A Escola do Desvendar da Voz e I Encontro Regional de PICs do Campo das Vertentes

 

"Aqui no meio, entre nós, está nascendo algo”

Nós, profissionais, estudantes e voluntários que atuamos dentro das bases antroposóficas, nas áreas da Medicina, Educação, Cantoterapia e Práticas Integrativas e Complementares (PICs), estivemos reunidos nos dias 22 a 24 de novembro de 2018, na cidade de São João del Rei, em Minas Gerais, e compartilhamos nossas práticas, estudos, pesquisas, e sonhos durante o I Congresso Mineiro de Medicina Antroposófica , promovido pelo Departamento de Medicina da Universidade Federal de São João del Rei (DEMED/UFSJ), com apoio da Associação Brasileira de Medicina Antroposófica (ABMA) Regional Minas Gerais e da Sociedade Mineira de Pediatria. O tema do evento foi "Crianças e adolescentes do século XXI: contribuições de um paradigma integrativo", e buscou-se discutir a ação da Medicina Antroposófica na atenção à saúde primária com enfoque na saúde da criança; buscando estimular também as PICs no SUS.O evento também acolheu o I Encontro Regional de PICs da Região das Vertentes e o I Encontro Nacional de Cantoterapia – A Escola do Desvendar da Voz, abordando temas que envolveram a biografia e abordagens terapêuticas e pedagógicas da Escola e ainda seus percursos atuais e desejos futuros de ações.

Durante o evento, a partir de cada uma de suas atividades, construímos essa carta para declarar que acreditamos que, em um trabalho integrado com as Práticas Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde (SUS) possamos contribuir para o autoconhecimento e empoderamento dos indivíduos/cidadãos em relação à sua saúde e bem- estar.

Que essa carta possa inspirar a todos aqueles aos quais ela chegar, trazendo uma maior compreensão sobre a seguinte correlação: o criar condições para a saúde e o empoderamento dos indivíduos e de suas comunidades & culturas, bem como sua integração com suas forças

internas e as forças da natureza. Que cada um que leia esta carta possa assumir suas responsabilidades, dentro de suas alçadas e possibilidades, para a criação das condições necessárias para que o que vai nela expresso possa ocorrer!

"Que a Pedagogia, Agricultura e Medicina possam trabalhar em parcerias reais e não superficiais.

Esta carta está dividida em três partes, buscando, no entanto, manter um olhar integrado entre elas.

Que as terapias não causem medo!

Que a Medicina Antroposófica chegue em locais onde as pessoas querem, mas que ela

seja acessível a todos e não seja exclusiva. Cuidar de quem cuida é uma Arte!

A Pedagogia cura, então cuidemos de nossos pedagogos.”

 

MEDICINA & PICs

Devemos estimular a prática de uma nova visão de saúde em ambientes como escolas, redes de assistência à saúde e outros trabalhos sociais, com uma perspectiva de ampliação do conhecimento. O que queremos dizer é que temos obrigação de influenciar para que essas práticas sejam implementadas.

Temos visto que o campo da atuação em políticas públicas é desafiador, mas que, dentro do SUS, há o controle social através dos Conselhos Municipais e Estaduais de Saúde. Através da relação com os conselhos municipais, podemos pensar em uma forma de realizar o encontro das PICs com a gestão pública, como também em como fortalecê-lo.

O COAP - Contrato Organizativo de Ação Pública - é uma estratégia de regionalização do SUS que prevê a relação entre as faculdades de medicina e os municípios, buscando uma participação de alunos das faculdades em estágios no município. Por outro lado, a população,

através dos conselhos de saúde, poderia criar demandas para as linhas de pesquisa nas universidades.

Sendo assim, propomos a implementação de COAPs, visando: a construção inicial de Projetos de Extensão interdisciplinares, dialogados com grupos populares que envolveriam: medicina, pedagogia, biologia, teatro, psicologia, arquitetura, entre outros cursos universitários. Estes poderiam ser ampliados para um Programa de Extensão, que permitiria um avanço para a construção de uma política de extensão universitária com esses princípios.

Em relação aos cursos universitários, propomos: 1. a inclusão da matéria Medicina Antroposófica e outras PICs como obrigatórias nas faculdades de medicina 2. A inclusão da matéria “Antroposofia” em outros cursos de ciências humanas e sociais.

Entendemos que é importante que o estudante de Medicina tenha contato com as Práticas Integrativas e Complementares na graduação.

Foi constatado, porém, que na UFSJ faz parte do currículo do curso de Medicina uma matéria obrigatória sobre as PICs. Desejamos que, em mais Universidades/faculdades, as PICs

sejam abordadas, conhecidas, divulgadas e inseridas como matéria curricular ou eletiva, como projetos de extensão etc. Almejamos que isso continue sendo incentivado e valorizado pelo MEC.

Almejamos ainda desenvolver um curso de formação em Práticas Complementares, realizado por profissionais da UFSJ junto ao SUS.

Pretendemos desenvolver ações para viabilizar o acesso à Medicina Antroposófica, nas Instituições locais e na Saúde Pública, no campo das Medicinas complementares.

Queremos ainda desenvolver ações para aproximação de Instituições de Medicina Antroposófica a Instituições do campo da Saúde Pública.

Em relação aos medicamentos, propomos o financiamento obrigatório das medicações antroposóficas pelo SUS, bem como o incentivo à produção de insumos para medicamentos antroposóficos no Brasil.

Faz parte da proposta também oferecermos treinamentos para equipes da Saúde da Família com o tema “saúde da criança ampliada pela visão dos setênios, suas características, seus potenciais e suas necessidades centrais”.

Cabe enfatizar sobre a urgência de repensarmos e reconstruirmos o papel do Médico de

Família e Comunidade, no sentido de atuação prática para a promoção e prevenção em saúde.

O médico, na atenção primária à saúde, consegue atuar muito pouco em atividades como grupos terapêuticos diversos, como grupos de terapia artística, por exemplo. Isso ocorre devido à enorme pressão dos gestores para a permanência desse profissional na assistência, da forma convencional, que prioriza somente o atendimento individual. Porém, para tanto, é necessário investir mais e ampliar a atenção primária na saúde, para que não fiquemos restritos apenas ao tratamento de doenças já instaladas e sua reabilitação, mas que atuemos também na prevenção

de doenças e suas complicações, prevenindo-as com as PICs. Queremos ressaltar o fato de que essas são ações economicamente viáveis e socialmente mais dignas.

Gostaríamos de chamar a atenção a respeito das plantas medicinais no âmbito do saber popular, e para isso, propomos uma necessária e urgente valorização dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) na Atenção Básica, visto que são figuras que fazem a interface entre a comunidade e a Equipe de Saúde da Família. Através dessa valorização por parte dos gestores, é possível que mais especialistas locais das comunidades sejam detectados (como raizeiros, benzedeiras etc.) e se possa fazer um intercâmbio entre o sistema de saúde, a universidade e os

conhecimentos populares em plantas medicinais, possibilitando que se faça a aplicação da

política de PICs preconizada pelo SUS no âmbito da fitoterapia, da Antroposofia e das outras PICs. A valorização da Estratégia de Saúde de Família e, consequentemente, dos ACS, possibilita que esses profissionais tornem-se terapeutas de PICs, através de um maior diálogo com os usuários e da participação em cursos de capacitação, como os oferecidos pelo AVASUS (de Antroposofia, Plantas Medicinais para ACS, etc.).

Devemos trabalhar para que os locais de trabalho tenham abertura e estrutura para apoiar o autocuidado, pois, para que o cuidado dos usuários do sistema de saúde seja feito a partir do exemplo e da motivação, de forma horizontal e fraterna, é necessário que os cuidadores possam e escolham cuidar de si próprios.

É de suma importância pensarmos a inserção dos profissionais atuantes no Centro de Referência em Medicina Antroposofica, enquanto voluntários, dentro do SUS enquanto profissionais. A Antroposofia assim como as demais PIC’s, não se fazem apenas com médicos, mas com toda uma equipe de saúde, e o Centro de Referência em Medicina Antroposófica de São João Del Rei é claramente um exemplo de sucesso na região, promovendo saúde junto à população.

Devemos trabalhar para levar ao profissional de saúde conhecimento da visão ampliada

do ser humano e das fases da vida, seguindo o exemplo do SUS de BH, onde acontecem oficinas que versam sobre esses assuntos. Como caminho para alcançarmos semelhante resultado, sugerimos a capacitação de profissionais para a realização do trabalho com este propósito.

 

EDUCAÇÃO

Temos a medicina antroposófica ganhando pouco a pouco espaço no SUS, tanto nas políticas públicas como nas PICs. Devemos pensar como a Pedagogia Waldorf também pode

ganhar espaço nos cursos de pedagogia, nas escolas públicas, nos espaços educativos. Pode-se pensar em ações para que isso aconteça, como as que seguem abaixo.

Propomos que os meios de comunicação tenham de apresentar alertas sobre os perigos do excesso do uso de telas na infância, da mesma forma como os alertas que aparecem nos maços de cigarro.

Devemos trabalhar para que seja respeitado o direito das crianças brincarem na escola também. Para isso, é necessário que o horário de recreio seja de pelo menos 40 minutos, dando tempo à criança para lanchar e brincar com calma e harmonia.

Outra ação que enfatizamos é a de que devemos trabalhar para que, em todo posto de saúde, escola, hospital e creches, as pessoas envolvidas no trabalho se conscientizem de que cada um pode ajudar a formar neste local uma comunidade de aprendizagem - local onde todos estão e também atuam para aprender uns com os outros. Esta comunidade de aprendizagem será capaz de formar um ambiente amoroso e acolhedor. A Antroposofia, em suas diversas áreas de atuação, tem esta possibilidade de formar comunidades de aprendizagem.

Um outro ponto discutido foi o de que os alunos de Medicina, Pedagogia e Teatro da UFSJ querem ter uma experiência de formação sobre a Pedagogia de Emergência.

Devemos trabalhar para oferecer disciplinas de medicina antroposófica em todas as escolas médicas, e há uma solicitação especial para oferecê-la na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), considerando o interesse de uma de suas professoras, presente a este Congresso.

Devemos trabalhar para levar os conhecimentos de saúde que a Pedagogia Waldorf - pedagogia do fazer com sentido e amor - para TODOS os Agentes Comunitários de Saúde de todo o Brasil. Assim, junto com a tarefa de checar se a carteira de vacinação está em dia ou não, o agente de saúde poderia verificar se a criança tem ritmo, cuidado atento e coerente por parte

do adulto e adequação do brincar. Além disso, chamamos atenção para a conscientização dos

pais para estimularem movimentos das crianças do 1o setênio com brincadeiras e também de diminuir a super estimulação cognitiva e a super exposição a eletrônicos.

Devemos apresentar aos conselhos municipais de educação e da criança e do adolescente novos paradigmas educativos, como a Pedagogia Waldorf, a Pedagogia de Emergência e a Escola de Resiliência, como medidas preventivas e promoção de saúde.

Devemos trabalhar para que as práticas integrativas e terapias artísticas estejam presentes em ações de comunicação social, para que a sociedade, como um todo, compreenda o papel que essas ações desempenham nos processos de cura individual e coletiva.

 

CANTOTERAPIA

Todas as pessoas cantam, e entendemos que deveriam fazê-lo. Todas as pessoas trazem em si um instrumento musical amoroso, pois o cantar é uma manifestação do Mundo Espiritual na Terra. “Quem canta seus males espanta”, diz o dito popular. Esta é uma constatação tão verdadeira que, hoje, esse poder de transformação do canto vem sendo reconhecido, inclusive por meio da “Cantoterapia”.

Ao se apropriar do corpo e da voz como instrumentos musicais e se expressar coordenando membros e voz, faz-se o equilíbrio sanador entre o pensar, o sentir e o querer. A memória e a concentração melhoram; a capacidade respiratória se amplia; o equilíbrio emocional se estabelece; a coordenação motora se desenvolve. Assim, o canto se torna uma medida e atividade de saúde.

A Cantoterapia, com bases na Escola Desvendar da Voz, desenvolve processos de cura e de transformação potentes, que teriam um grande valor ao entrar na vida da saúde. A vibração sonora dentro do nosso corpo, aliada à intenção e a auto-percepção, podem impulsionar mudanças profundas no indivíduo e na comunidade, pois o ser humano é musical, e o cantar, uma conexão com o cosmo.

Constatações e apreciações:

Depois de três décadas do Movimento da Escola do Desvendar da Voz no Brasil, da

cantora sueca Valborg Werbeck-Svärdström, realiza-se aqui o I Encontro Nacional de Cantoterapia, que foi de grande importância para uma tomada de consciência de onde está e para onde o movimento da cantoterapia pode ir, com desejos de expansão e de integração dos profissionais no Brasil.

Neste ano de 2018, o Curso de Formação em Cantoterapia, que vem acontecendo desde 2007 no Brasil, em Florianópolis/Sagres, como curso livre, passa também a ser um curso de Pós Graduação/Especialização pela Faculdade Rudolf Steiner. O curso habilita o profissional com reconhecimento do MEC, ampliando as atuação do cantoterapeuta e reconhecendo seu fazer em diversos âmbitos.

O reconhecimento da profissão e de seu diálogo amplo com a sociedade são fundamentais para a expansão deste trabalho nos campos artístico, terapêutico e pedagógico. A Cantoterapia Antroposófica está presente e pretende expandir sua participação nos cursos da ABMA – Associação Brasileira de Medicina Antroposófica, representada também no CIMA – Comitê Iberoamericano de Medicina e Terapias Antroposóficas, em formações terapêuticas antroposóficas, em formações de Pedagogia Waldorf, em Escolas Waldorf, em Clínicas, em consultórios particulares e em âmbitos artísticos.

 

Encaminhamentos:

A Cantoterapia aspira estar mais presente, ser valorizada e praticada no ambiente terapêutico, na medicina antroposófica e na medicina como um todo. Em uma tentativa de que sua atuação na saúde seja cada vez mais estudada e partilhada, os profissionais pioneiros da Cantoterapia vêm marcando presença, quer seja apresentando trabalhos ou divulgando essa terapia em Congressos e Simpósios de Terapias Antroposóficas. Mas ainda se faz necessário estimular a presença de Cantoterapeutas em trabalhos científicos acadêmicos, assim como disponibilizar informações sobre a Cantoterapia em Congressos de Medicina e Saúde.

Cabe ressaltar que o atendimento com a Cantoterapia dentro do sistema público de saúde é um passo fundamental para promover acessibilidade dessa terapia e valorizar o profissional dessa área. Para tal, é necessário atuar em conjunto com a ABMA e com todos os profissionais da saúde.

Outro ponto encaminhado durante o Congresso foi o da possibilidade de integrar a prática artística dentro da graduação em medicina, de forma plena, permitindo a valorização das humanidades, como também desenvolvendo empatia e autoconhecimento para a prática médica.

Para se fazer conhecer e compreender, a Cantoterapia precisa estar presente como vivência prática e processo terapêutico, dentro das formações em medicina antroposófica, de forma contínua. Do mesmo modo, pode ser de grande valor, tanto para os profissionais de saúde, como para o movimento da cantoterapia e para os pacientes, a formação de grupos de estudo junto com médicos e demais profissionais da saúde. Para isso, é necessária a criação de uma rede integrada entre os cantoterapeutas a fim de desenvolver e manter o mapeamento, o mais abrangente possível, das atividades de atuação em todo o país, assim como também o mapeamento de clínicas e de iniciativas Waldorf receptivas à Cantoterapia.

Pensou-se também em uma plataforma online, para divulgar a Cantoterapia e dialogar com a sociedade. Esta promoveria informações relevantes sobre a Cantoterapia e a Escola do Desvendar da Voz; promoveria também as informações e contatos dos profissionais atuantes

nos âmbitos terapêutico e pedagógico e ações de fortalecimento dos cursos livres e formativos que abordem a metodologia da Escola Desvendar da Voz, assim como ações de cultura e de cidadania a isso relacionadas.

Estes foram os pontos encaminhados durante o congresso e que expressamos nesta carta de São João del Rei.

 

 

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